MEU MALVADO FAVORITO 2

Salvar o mundo é muito mais divertido que roubar a lua.
Finalmente, ele voltou. Gru, o vilão-mas-nem-tanto com seu exército de Minions e três das garotinhas mais adoráveis que o mundo das animações já viu ganharam sua segunda aventura, três anos depois do lançamento da original.
Ainda que fosse esperado, o projeto não deixava de ser preocupante: Estamos falando de um mercado em que muitas produções ganham sequências puramente por dinheiro, repetindo fórmulas até a exaustão só para vender brinquedos e licenciamento em seja lá o que consigam estampar a cara de seus personagens. Franquias como “Toy Story”, que renderam três filmes de altíssima qualidade, tendem a ser a rara (e bem-vinda) exceção, quando a matéria é qualidade.
Não estou falando que a idéia aqui não seja lucrar, longe disso, mas felizmente, “Meu Malvado Favorito 2” (“Despicable Me 2”) não perdeu seu charme na sequência, que apenas reafirma a qualidade do antecessor. Ou talvez até o supere.
Depois de aposentar seus planos vilanescos, Gru (Steve Carell) tenta ganhar a vida reaproveitando seu laboratório e seus ajudantes Minions para produzir geléias, para a infelicidade de seu sócio Dr. Nefario (Russell Brand). A vida com suas filhas Agnes (Elsie Fisher), Edith (Dana Gaier) e Margo (Miranda Cosgrove) tem sido pacífica e divertida.
Do outro lado do mundo, porém, um perigoso soro mutante é roubado, e a AVL, Liga Anti-Vilões, procura Gru para ajudá-los a localizar o responsável, que estaria disfarçado em um shopping center local. O ex-vilão passa a trabalhar com a agente Lucy Wilde (Kristen Wiig), que compensa seu lado atrapalhado com ótimas engenhocas e muita disposição. Para Gru, o principal suspeito do crime é o dono de restaurante Eduardo (Benjamin Bratt), que seria ninguém menos que o lendário vilão El Macho.
O novo trabalho, porém, é só mais um da lista de problemas de Gru: a presença da agente Lucy começa a fazer com que questione sua vida solitária, especialmente quando Margo está de namoricos com Antonio (Moises Arias), filho de Eduardo. Isso sem falar, claro, nos Minions que estão sendo capturados por alguma força misteriosa.

“Meu Malvado Favorito 2” parece ter tido um plano muito melhor que o original em sua concepção. Sabendo melhor com o que estavam trabalhando, a equipe conseguiu dar espaço para os personagens crescerem ainda mais, colocar novos elementos na história e deixar tudo ainda mais divertido. O tema do primeiro filme era “família” – Gru cuidar de suas filhas como sua mãe nunca cuidou dele -, e aqui isso continua com um novo ângulo, tanto colocando as dificuldades da paternidade quanto outros significados de constituir uma família, começando pela tentativa de arranjar uma namorada para o herói-vilão.
Os novos problemas de Gru, junto de sua evolução como “paizão”, nos permitem vê-lo em outros ângulos. Quem esperaria que o mau-humorado ia virar um superprotetor de primeira? E quem esperaria que o homem que roubou a Lua fosse um completo incapaz com as mulheres? Aqui entra Lucy, uma ótima adição à trama, com seu jeito atrapalhado e suas piadas sem graça, mas também funcionando como um bom par romântico – e de ação – para Gru.
As meninas continuam divertindo, em especial a pequena Agnes, mas até mesmo Edith, a menos marcante das três, ganha muito mais destaque. Nefario tem pouco tempo de tela, e a mãe de Gru mal aparece, ambos perdendo espaço para elementos mais divertidos – e ágeis – da trama, uma decisão que funcionou muito bem. O filme ganhou ritmo e, com isso, muito mais risadas.

O filme aproveita muita da estrutura do original, com uma cena inicial inóspita – porém interessante – e vários ganchos e “rebarbas” na narrativa que surgem como surpresas inesperadas e constroem muito bem a história. E sim, Gru também tem seus geniais flashbacks quando seus dilemas pessoais entram em cena.
Desta vez, a história ousa uma complexidade maior, já que poupa tempo de apresentações de Gru e companhia. Temos uma montagem interessante e um vilão que representa um perigo bem maior do que os planos do competitivo (e chato) Vector, do primeiro filme. A única reclamação real fica para o “embate final”, que ficou com uma resolução rápida e simples, enfraquecendo um pouco em comparação com cenas ótimas antes e depois.
A propósito, vale o destaque: No elenco da dublagem temos Leandro Hassum (Gru), Luiz Carlos Persy (Dr. Nefario), Pâmela Rodrigues (Agnes), Ana Elena Bittencourt (Edith), Bruna Laynes (Margo), Maria Clara Gueiros (Lucy), Arthur Aguiar (Antonio) e Sidney Magal (Eduardo). Não, você não leu errado – além de alguns nomes da comédia, o lendário intérprete de “Sandra Rosa Madalena” está no elenco nacional.
Fica aqui um elogio especial para o time: os que retornam mantiveram a qualidade, e os novatos não ficam atrás. A escolha de Maria Clara Gueiros para Lucy foi acertada, tanto por combinar bem com a personagem quanto pela qualidade de seu trabalho. Mais surpreendente, porém, é Sidney Magal, roubando a cena com uma performance divertidíssima.

Depois dos sucessos dos Minions no primeiro filme, os baixinhos ganharam muito mais tempo de tela, misturando palhaçadas pela pura e simples diversão quanto cenas muito importantes da trama, ainda que não pareçam à primeira vista. E não há do que reclamar – eles estão ainda mais adoráveis e engraçados do que na primeira vez. Ainda que Gru e companhia já garantam a maior parte das risadas, há muita força no humor inocente e infantil dos assistentes amarelos.
Somados às muitas referências a diversos elementos da cultura pop, desta vez temos ainda mais números musicais que vão ficar na sua cabeça por muito tempo. Também ouvimos novas palavras do vocabulário da língua dos Minions, que vão fazer muita gente brindar “kanpai!” (termo usado em japonês – e em “minionês” – para brindes) e chamar qualquer sorvete de “gelatô”.

A adaptação nacional nas falas dos baixinhos ficou praticamente imperceptível. Notamos aqui e ali alterações relevantes, como chamarem Gru de “Chefe” ou frases curtas que ajudam na hora de entender o que estão falando: “olhatu” (no original “lookatchu”), por exemplo, quando um Minion aponta e ri de algo engraçado acontecendo com um amigo. Tudo funciona muito bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário