monstros S.A - Universidade de Monstros
E a Pixar acerta mais uma vez
Desde que deu a cara a tapa nos cinemas, com “Toy Story” (em 1995, quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a Terra), o nome Pixar tornou-se sinônimo de qualidade no ramo da animação.
Com histórias marcantes, personagens bem desenvolvidos e inesquecíveis, e histórias extremamente cativantes, o estúdio conseguiu o impossível, que é agradar crianças… e até o mais rabugento dentre os adultos.
Sério. Coloque “Toy Story 3” pro seu pai bigodudo e mal humorado assistir. Garanto que na última cena, ele estará se debulhando em lágrimas… como tudo mundo no planeta.
Com “Universidade Monstros”, a Pixar resolveu arriscar um pouco na comédia pura. Um filme mais dedicado ao humor e menos preocupado em emocionar seu público. Bem, será que eles conseguiram?
Claro que sim!
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Desta vez, a história foca-se em Mike Wazowski, o monstrinho verde com um olho só cujo maior sonho na vida, desde criança, é tornar-se um “assustador”. A elite de criaturas que trabalha na “Monstros S.A” e consegue energia para seu mundo graças aos gritos de medo que causa nas crianças humanas.
Mas não se consegue um emprego bom como esses sem ensino superior, então, Mike dedica sua existência a tornar-se parte da Universidade Monstro, uma instituição de ensino que prepara os melhores profissionais que existem. O rapaz inscreve-se no “Programa de Sustos” e começa a dar os primeiros passos em direção a realizar seu objetivo.
Infelizmente, como sempre acontece, o caminho de Mike não é sem obstáculos, logo ele conhece um fanfarrão chamado James P. Sullivan, que torna-se o astro do programa de sustos quase sem esforço. Uma rivalidade forte surge entre os dois e em uma fatídica tarde, a dupla desperta a fúria da diretora Hardscrabble, que os expulsa do programa de sustos.
Recusando-se a abandonar aquilo ao qual dedicou a vida inteira, Mike topa participar de uma competição extremamente perigosa envolvendo as fraternidades da universidade. Ele faz uma aposta com a diretora e se seu grupo conseguir vencer o evento, ele e Sully poderão voltar ao programa de sustos.
Mas claro, superar as diferenças existentes entre ele e seu rival, será algo mais difícil de fazer do que ele pensa.
“Universidade Monstros” segue a fórmula das típicas comédias de “CDF’s versus atletas”, vivas desde a época de “A Vingança dos Nerds”. É um enredo familiar, mas com os toques habituais da Pixar, a história consegue ser única o bastante para manter o espectador grudado na cadeira.
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Possivelmente a maior diferença entre este filme e o anterior, é a mudança do foco do protagonista. Enquanto “Monstros S.A” concentrava-se em Sully, desta vez vemos a história pela ótica de Mike, o que altera totalmente a química do enredo.
Mike é dedicado, estuda e acha que seu conhecimento será capaz de levá-lo as alturas, apesar de suas claras limitações como monstro. Torcemos por ele, queremos ver seu esforço recompensado e por mais que saibamos que Sully é um fofo (“gatinho”, como diria Boo), sentimos uma leve antipatia por ele em alguns momentos, uma vez que o enxergamos quase que unicamente pela ótica de Mike.
Assim como seu antecessor, “Universidade Monstros” tem uma boa cota de personagens marcantes. Os membros da Oozma Kappa (a fraternidade ao qual Sully e Mike fazem parte) são arquétipos simples, que reúnem, entre outras coisas, o artista estranho e o filhinho da mamãe. Mas todos possuem características únicas, que os fazem quebrar o molde, ao mesmo tempo que são um resultado dele.
Os demais coadjuvantes da história, mesmo aqueles que nunca tem seu nome revelado, também são plenamente capazes de deixar uma impressão duradoura no público. Desde a dupla que narra os jogos universitários (um pit-boy super empolgado e uma gótica dentucinha e desinteressada) até a fraternidade feminina, composta por monstrinhas bonitinhas, mas capazes de arrancar sua cabeça a mordidas se necessário for.
Mas talvez a personagem nova mais memorável deste longa, seja a diretora Hardscrabble. Uma mistura de centopeia e dragão, ela é provavelmente a única monstra realmente intimidadora da história, algo que deve-se mais a sua postura severa que a sua aparência. Ela é dura, direta e parece totalmente desprovida de senso de humor, tal como um diretor de escola costuma ser representado no cinema. Mas novamente, a Pixar tomou seu próprio rumo e fez dela uma figura de ordem, ao invés de uma vilã pura. Hardscrabble é severa e rígida, mas em momento algum parece maliciosa. É muito difícil criar uma personagem que se oponha aos heróis e permaneça empática no processo, mas seus criadores conseguiram esta proeza com maestria.
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Como eu já disse, “Universidade Monstros” é uma comédia, mas seus produtores resolveram confiar na inteligência de seu público neste quesito. As piadas são rápidas, na maioria dos casos, e não são esfregadas na cara da plateia. Situações cômicas nos são oferecidas, das mais discretas as mais escrachadas e cabe a nós entender e rir delas.
Da mesma forma, muito humor reside nas referências a produção original. Randy Boggs e alguns outros coadjuvantes do longa anterior fazem participações divertidas aqui e o humor gerado por eles é quase sempre dependente de nossa lembrança de como eram em “Monstros S.A”. Claro, se você não assistiu o primeiro filme dezessete vezes, não terá sua diversão alterada de maneira alguma, apenas receberá um mimo a mais caso tenha se dedicado ao mundo habitado por estas criaturas.
Como não poderia deixar de ser, existem momentos mais sensíveis. Embora menos notáveis que em outros filmes da Pixar (esta foi a única animação do estúdio que não me fez chorar), eles ainda possuem carga emocional e sinceridade o bastante para não se tornarem piegas e mais importante, manterem a relevância dentro da história.
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Posso dizer sem medo de errar, que “Universidade Monstros” será uma das melhores animações do ano. Pode não ser revolucionária como outras criações da Pixar, mas verdade seja dita, a roda não precisa ser reinventada todos os dias. As vezes, aquilo que nos é familiar acaba sendo a melhor das opções.
E para mim, poucas coisas são mais familiares que Sully e Mike, esses dois monstros tão diferentes e ao mesmo tempo, tão parecidos conosco.